[Trilha desse texto: A quiet life, Teho Teardo & Blixa Bargeld ]
“Eu ainda tenho tempo. Por que a gente fala isso? “Ter tempo”. Como podemos ter tempo se é ele que nos tem?”
Jonas, Dark – 6 ep, 2 temp. O ciclo sem fim)
Existem
duas máximas na filosofia da minha mãe que sempre me perseguiram:
- Se pode fazer, faça logo;
- Se é você que quer, não espere por ninguém.
Nos
últimos meses, essas máximas martelavam fortemente na minha cabeça, apesar de
ainda não dar a devida atenção a elas. Até que o COVID-19 veio como um tsunami
não apenas de preocupação à saúde pública, mas como uma transformação em toda a
sociedade como a conhecemos hoje. O jornal El País já nos traz que o mundo
pós-ocidental chegou: nações como os Estados Unidos não são mais referência de
Poder como costumávamos pensar. É fato que são os conflitos e crises
propulsores das mudanças e avanços. E são nesses momentos de completo
desconforto que precisamos rever o status quo e ver até que ponto ele ainda se
sustenta.
Essa
semana, uma amiga postou um texto curto e interessante no Instagram. Ela citou
os conceitos da economia e tecnologia disruptivas; do fim da estabilidade como
a conhecemos hoje; sobre testar limites e se colocar no desconhecido. As
últimas semanas foram de verdadeiros debates sobre os modelos econômicos e o
futuro do trabalho. E na verdade, esse debate não é novo. Mas foi necessária
uma pandemia vir e abalar todas as estruturas para mostrar às pessoas que não
sabiam (e às pessoas que já sabiam, mas talvez não quisessem ver) que a
adversidade é a fundação de tudo.
A
noção de estabilidade é ilusão e aquele que não ousa sair desse status quo ou
da tão querida zona de conforto, está fadado ao desconforto constante ao mundo
que só existe pelo caos. E não, o caos não é ruim ou excruciante pela falta de
organização. Mas é na complexidade do caos que somos compelidos a crescer.
Nunca
me agradou a ideia de me aquietar em um só lugar. Nunca me vi fazendo uma só
coisa pela minha vida inteira. Para ser sincera, nunca criei raízes em um lugar
e ainda sinto que estou distante de criar, se é que irei algum dia. Não há
raízes em lugares, pessoas ou mesmo ideias, pois são coisas em constante
mutação. E se não sofrem de mudanças, não valem a pena de atenção.
Nos
últimos meses eu vinha sentindo todo o desconforto da estabilidade ilusória e
as máximas da minha mãe vieram à mente como pregos que foram martelados por um
vírus que ninguém esperava. A agonia do lodo se formando ao redor dos meus pés,
nas conversas que pareciam estar em um loop constante, observando a poeira
encrustar nos móveis de uma maneira que eu não posso limpar.
E
acaba que meus pés, agoniados pelo lodo, começam a formigar. As engrenagens que
se moviam em um compasso habitual, começam a estrondear de uma maneira
familiarmente desconhecida. E que apesar da urgência desse estrondo ser
constante em mim, eu tenho que ir atrás desse desconhecido desejado agora, sem esperar por ninguém, antes
que o tempo me engula.
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