terça-feira, 14 de abril de 2020

O Tempo.


[Trilha desse texto: A quiet life, Teho Teardo & Blixa Bargeld ]
“Eu ainda tenho tempo. Por que a gente fala isso? “Ter tempo”. Como podemos ter tempo se é ele que nos tem?”
Jonas, Dark – 6 ep, 2 temp. O ciclo sem fim) 
Existem duas máximas na filosofia da minha mãe que sempre me perseguiram:

  •   Se pode fazer, faça logo;
  •   Se é você que quer, não espere por ninguém.

Nos últimos meses, essas máximas martelavam fortemente na minha cabeça, apesar de ainda não dar a devida atenção a elas. Até que o COVID-19 veio como um tsunami não apenas de preocupação à saúde pública, mas como uma transformação em toda a sociedade como a conhecemos hoje. O jornal El País já nos traz que o mundo pós-ocidental chegou: nações como os Estados Unidos não são mais referência de Poder como costumávamos pensar. É fato que são os conflitos e crises propulsores das mudanças e avanços. E são nesses momentos de completo desconforto que precisamos rever o status quo e ver até que ponto ele ainda se sustenta.

Essa semana, uma amiga postou um texto curto e interessante no Instagram. Ela citou os conceitos da economia e tecnologia disruptivas; do fim da estabilidade como a conhecemos hoje; sobre testar limites e se colocar no desconhecido. As últimas semanas foram de verdadeiros debates sobre os modelos econômicos e o futuro do trabalho. E na verdade, esse debate não é novo. Mas foi necessária uma pandemia vir e abalar todas as estruturas para mostrar às pessoas que não sabiam (e às pessoas que já sabiam, mas talvez não quisessem ver) que a adversidade é a fundação de tudo.
A noção de estabilidade é ilusão e aquele que não ousa sair desse status quo ou da tão querida zona de conforto, está fadado ao desconforto constante ao mundo que só existe pelo caos. E não, o caos não é ruim ou excruciante pela falta de organização. Mas é na complexidade do caos que somos compelidos a crescer.

Nunca me agradou a ideia de me aquietar em um só lugar. Nunca me vi fazendo uma só coisa pela minha vida inteira. Para ser sincera, nunca criei raízes em um lugar e ainda sinto que estou distante de criar, se é que irei algum dia. Não há raízes em lugares, pessoas ou mesmo ideias, pois são coisas em constante mutação. E se não sofrem de mudanças, não valem a pena de atenção.

Nos últimos meses eu vinha sentindo todo o desconforto da estabilidade ilusória e as máximas da minha mãe vieram à mente como pregos que foram martelados por um vírus que ninguém esperava. A agonia do lodo se formando ao redor dos meus pés, nas conversas que pareciam estar em um loop constante, observando a poeira encrustar nos móveis de uma maneira que eu não posso limpar.

Não temos Tempo. Tempo é algo que existe sem nossa intervenção e que nos come se não consideramos que sim, ele nos come. Não é algo linear como uma linha desenhada no chão em que andamos em cima, mas algo que nos engole sem linearidade alguma. O passado que influencia o futuro e um futuro não palpável, existente, que se forma a partir de um antes e um agora.


E acaba que meus pés, agoniados pelo lodo, começam a formigar. As engrenagens que se moviam em um compasso habitual, começam a estrondear de uma maneira familiarmente desconhecida. E que apesar da urgência desse estrondo ser constante em mim, eu tenho que ir atrás desse desconhecido desejado agora, sem esperar por ninguém, antes que o tempo me engula.

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