“Por que ela termina sozinha no castelo de gelo? Porque ela é lésbica. [...] Eu fui menina, eu sonhei em ser princesa. Eu sonhei com meu príncipe encantado.”
Essa
foi a pérola da semana da ministra Damares Alves falando da princesa Frozen,
aka Elza. A Elza, enviada do cão, iria salvar a bela adormecida com um
beijo gay. Pois é. A Disney quer fazer um crossover da Bela Adormecida com
Frozen. Que a Damares não bate muito bem da cabeça, todos nós sabemos. E diante
desse seu desequilíbrio (?), ela não nos mostra apenas o problema da homofobia
no Brasil, mas esse papel incumbido da mulher de ser princesa.
Ano
passado, mudando de canal buscando algo interessante para assistir, comecei a
ver Malévola, aquele filme da Bela Adormecida com a Angelina Jolie. Como
sabemos, a Bela Adormecida na versão da Disney acorda com o beijo do príncipe
encantado. Depois de anos acostumada com essa versão, parei e pensei: “Meu deus,
a Bela é beijada sem o consentimento dela! Isso é muito errado!”. E daí fui
pesquisar a história original dos irmãos Grimm de 1813 e bem... A Bela
Adormecida era na verdade estuprada por um rei. Tá, essa versão é realmente
pesada para os Contos de Fadas dirigidos às crianças. Mas a versão de fada que
fizeram também não é nada saudável.
Depois
de anos em relacionamentos, esse ano estou solteira. Dentre esses
relacionamentos eu: quase casei, passei por um relacionamento abusivo, namorei
com um cara que depois descobri ter abusado de garotas. Se eu sou uma princesa,
meu conto de fada é deprimente. E esse é o problema.
Crescemos
com essa ideia de que nós, mulheres, iremos encontrar nossos príncipes. Que só
seremos completas quando encontrarmos nossa metade da laranja. Que o objetivo
da vida é casar e ter filhos. Nesses meses solteira, fiquei pensando: “será que
vou atingir esse objetivo?” Mas... é esse o meu objetivo? Ser princesa e
encontrar meu príncipe?
Foi
um baque para mim não estar mais me relacionando. E você pode pensar: “mas que
besteira”. Mas eu sempre estive mergulhada nessa cultura. É difícil
desconstruir o castelo encantado. E por mais que você se veja feminista hoje,
lutando pela independência das mulheres, lá no fundo, você ainda deve sentir
esse resquício dos contos de fadas lá dentro.
Bridget
Jones é um dos meus filmes favoritos e eu cresci amando ver Bridget sendo a
solteirona destrambelhada, morando em um apartamento super legal, chorando e
bebendo sem parar. E depois encontrando um Darcy. Mesmo nos filmes que tentam
empoderar mais a mulher, no final, tem um homem. E eu não estou dizendo que tem
que matar todos os homens não tá, só a Rihanna pode fazer isso por nós. Mas a
gente NÃO PRECISA DE UM HOMEM PARA NOS EMPODERAR!
Estou
acabando meu mestrado. Uma vez, minha tia me perguntou o que eu planejava pro
futuro. Eu disse que queria seguir pro doutorado e queria fazer em outro lugar.
Ela me disse: “Mas e seu futuro?”.
- Como assim, tia?
- Você não pensa em casar? Ter filhos?
Eu
fiquei: meu deus, eu quero ser DOUTORA e a mulher vem me perguntar se eu quero
casar ou ter filhos.
- Ah, sei lá. Se aparecer ótimo, se não, ótimo também. Mas pensando bem, pra quê ter filhos em um mundo como esse? Com o Bolsonaro prestes a ser presidente?
Em
um encontro com meus amigos e meu ex-namorado, meus amigos perguntaram a ele se
ele ia morar junto da atual dele. Ele disse que não pensava nisso agora, mas
via praticidade quando pensava na economia que era dividir o aluguel do
apartamento e afins. Então no fim das contas, era mais uma questão utilidade.
Eu ri e fiquei pensando: poxa, não quero isso não.
Imagina
que maravilha você morar por conta própria. Pagar todas as suas contas com o
dinheiro do seu bolso. Não dividir a cama todos os dias. Não ter que se
preocupar com a vida não resolvida de macho, já que nós, mulheres, sempre
acabamos sendo a 2ª mãe para ensinar como passa roupa; como se cuida; como
limpa a casa e etc.
E
não é que eu abomine a ideia de me relacionar. Afinal, como o tapa na cara que
um amigo me deu uma vez: “No final das contas, todo mundo quer uma companhia.
Quer um dengo. Quer aquele cheiro no cangote no fim do dia”. Mas primeiro, eu
temos que aprender a NOS amar e sermos suficientes nesse amor. O que vem é
bônus e não complemento.
Devo
admitir que ainda estou em conflito. Depois de muitos anos em companhia, é um
pouco estranho me ver livre dos direitos e deveres do contrato de
relacionamentos. Mas aos poucos estou aprendendo a deixar essa ideia de ser
princesa (Só aceito se for como a Liz Lemon).
E
como a Elza, não existe só o amor do príncipe. O amor de irmã é um amor
verdadeiro, por exemplo (e é ainda mais verdadeiro).
Acho,
na verdade, que todas deveríamos ser Elzas.
Até
porque a Damares errou. A Elza não é princesa. A ELZA É RAINHA.
E
como rainha eu quero ter um castelo de gelo onde eu possa morar sozinha e
chamar quem eu quiser, beijar quem eu quiser, amar quem eu quiser e ser quem eu
quiser!
LET
IT GO BEING A PRINCESS. I’M A FUCKING QUEEN, BITCH!
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