segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Sou filha da Petrobrás

Há algumas semanas foi anunciada a venda de campos de gás e petróleo da Petrobrás no Estado de Alagoas. Nada novo sob o Sol. Há alguns anos vemos o desmantelamento de uma das mais importantes empresas de Petróleo do mundo. Desde o ano passado, venho sentindo na pele a tristeza de ver uma parte da minha história caindo. Sim, minha história. Meu pai trabalha na Petrobrás desde que eu nasci e a questão é que a Petrobrás não é somente o lugar que meu pai trabalha e que está se desintegrando diante dos meus olhos. Ela é muito mais.

Muitas pessoas veem a Petrobrás apenas como a empresa que trabalha com petróleo e abastece o Brasil com gasolina e Diesel. Mas não observam que a história da empresa se mescla à história do próprio país. Nós, brasileiros, lutamos muito para conseguir construir essa empresa. Para conseguir construir o que chegou a ser uma das empresas mais respeitadas do ramo no mundo. Mas a Petrobrás conseguia ir mais além.

Quantos filmes vimos com o patrocínio da Petrobrás? Quantos projetos culturais? Quantos centros de pesquisa foram desenvolvidos no país graças à empresa? Quantas vezes sentimos orgulho de sermos brasileiros com descobertas realizadas pela empresa como o Pré-Sal? Quantos cientistas puderam construir carreiras graças aos investimentos da Petrobrás? Eu não sei te dizer números exatos, mas eu nem tenho como contar, pois sei que são inúmeros.

Eu sou filha de um empregado da Petrobrás. E mesmo só sendo a filha, eu sempre senti que a Petrobras fazia parte da minha vida. Nas vezes que meu pai me levava ao Clube dos funcionários da empresa e eu conhecia os filhos de outros funcionários, construindo laços intermediados pela companhia. Quando criança, quando não tinham livros infantis em casa, meu pai pegava a revista da Petrobrás para ler para mim antes de dormir. Sim, eu não entendia nada, só queria que meu pai lesse para mim. Mas estava ali, a Petrobrás. A empresa sempre homenageava os trabalhadores pelos anos dedicados à empresa e nós, familiares, íamos às cerimônias e víamos o quanto a Petrobrás também era nossa dedicação. Meu pai sempre viajava a trabalho pela Petrobrás e aquilo acabava comigo. Por 3 anos seguidos, ele viajou no dia do meu aniversário. Mas quando eu via as propagandas da Petrobrás na TV ou os patrocínios da empresa para setores da educação, ciência e cultura, eu pensava: é por um bem maior.

Orquestra Sinfônia da Petrobrás toca Uirapuru de Heitor Villa-Lobos

Eu lembro quando teve o acidente da Plataforma P-36 em 2001. 11 pessoas morreram. E eu nem as conhecia. Mas para mim, foi como se tivesse morrido pessoas da família. E eu tinha só 9 anos, mas lembro que aquilo me deixou um vazio.

Ver a logo da Petrobrás sempre me trouxe muito orgulho. Quando meu pai vestia, literalmente, a camisa. Quando eu via o Ararajuba, aquele passarinho mascote da empresa, eu sempre sentia aquele calorzinho no coração. E hoje, eu vejo tudo desmoronando.

Quem lembra do Ararajuba que teve nos postos da Petrobrás na Copa de 98?

Me preocupa pessoalmente a situação da Petrobrás, pois me preocupo com o futuro do meu pai, claro. Mas me preocupa também pois eu sei que é minha história. É a história do meu país. Não é só minha história como filha de petroleiro, mas como cidadã brasileira. É suor, sangue e vida de muitas pessoas. É a cultura brasileira. É a ciência brasileira. E também é o futuro do Brasil, sendo apagado antes mesmo de conseguir se escrever. 

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