sábado, 10 de agosto de 2019

A carona de guarda-chuva


Hoje eu peguei uma carona de guarda-chuva. Quando saí de casa, o céu estava limpo. Um sol dos infernos, digno da cidade de Recife. Até pensei em sair de calça jeans, mas eu fiz depilação ontem, pra quê me torturar? Na maior avenida em linha reta da América Latina (Fonte: todos os pernambucanos), a Caxangá, o sol estava firme e permaneceu assim até o momento em que eu saí do ônibus. Comecei a sentir algumas gotinhas e apressei o passo. Ao chegar no cruzamento da Agamenon Magalhães, as gotinhas se tornaram gotonas e me agarrei ao pacote de envelopes que ia enviar nos Correios para protege-los d’água.

- Você quer uma carona no meu guarda-chuva?

Eu nunca tinha ouvido essa pergunta. Ao meu lado, uma moça também esperava o sinal abrir para atravessarmos. Sorri, agradeci e ela se colocou mais próxima de mim.

- O clima de Recife está louco! – comentei. São Pedro sempre dava sinais, mas acho que ele cansou dos humanos, principalmente dos brasileiros e do novo governo.

- Recife sempre foi bipolar, mas agora ela também é escrota.

Eu ri alto e comentei que a rinite é a primeira a curtir essa nova fase de escrota do nosso país Recife. O sinal abriu e continuamos embaixo do guarda-chuva conversando sobre o clima instável da cidade e como rinite, sinusite e outros ites aparecem para nos visitar nesse período.

- Fim de semana passado, eu e meu marido íamos para a praia. Pegamos o ônibus. Nem chegamos e já começou a chover. Só fiquei eu com minha cara de otária com meu biquini aparecendo entre a blusa e as pessoas me olhando.

Ri mais uma vez e comentei que quando fui visitar meus pais em Maceió, planejei ir a praia, mas acabei passando dois dias no sofá, agarrada com minha gata, vendo séries enquanto o mundo caía em uma tempestade. Atravessamos a avenida.

- Você vai pra que lado? – ela perguntou apontando seguir em frente ou pegar a direita.
- Qualquer um.

E continuamos conversando. Ela me disse que tinha um filhinho e que agora precisava, mais do que nunca, observar o clima. Me perguntou se eu gostava mais de Maceió ou Recife. Disse que gostava do caos, por isso preferia Recife, mas que Maceió era um bom lugar, tranquilo.

- Eu gostava mais da agitação, até ter um filho. Muda tudo sabe?
- Imagino... Eita. Fico aqui. Obrigada pela carona!
- O prazer foi todo meu!

Recife sempre me prega esses momentos. Depois da análise, fui ao alergologista fazer um teste para saber se eu ainda tinha alergia a crustáceos. Esperando o resultado, na TV passava mais uma burrada do presidente. Fiz cara de desaprovação e a recepcionista partilhou seu descontentamento e vergonha de um governo tão imbecil. Conversamos mais um pouco sobre as mazelas. Saiu o resultado: sem alergias. Agradeci, desejei uma boa semana e mais uma vez, fui em direção ao cruzamento da Agamenon Magalhães para voltar pra casa. O sol tinha voltado.

É. Acho que São Pedro mandou a chuva pra que caronas como a de hoje tragam o aroma gostoso de chuva quando cai para dar a esperança de que as coisas melhorem. Como o sol desse fim de tarde.

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