300 ml de coisas para ver tomando café
Senta aqui e vamos tomar um café conversando da vida.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2023
Sobre os familiares bolsonaristas
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
Sou filha da Petrobrás
Há algumas semanas foi anunciada a venda de campos de gás e petróleo da Petrobrás no Estado de Alagoas. Nada novo sob o Sol. Há alguns anos vemos o desmantelamento de uma das mais importantes empresas de Petróleo do mundo. Desde o ano passado, venho sentindo na pele a tristeza de ver uma parte da minha história caindo. Sim, minha história. Meu pai trabalha na Petrobrás desde que eu nasci e a questão é que a Petrobrás não é somente o lugar que meu pai trabalha e que está se desintegrando diante dos meus olhos. Ela é muito mais.
Muitas
pessoas veem a Petrobrás apenas como a empresa que trabalha com petróleo e
abastece o Brasil com gasolina e Diesel. Mas não observam que a história da
empresa se mescla à história do próprio país. Nós, brasileiros, lutamos muito
para conseguir construir essa empresa. Para conseguir construir o que chegou a
ser uma das empresas mais respeitadas do ramo no mundo. Mas a Petrobrás
conseguia ir mais além.
Quantos
filmes vimos com o patrocínio da Petrobrás? Quantos projetos culturais? Quantos
centros de pesquisa foram desenvolvidos no país graças à empresa? Quantas vezes
sentimos orgulho de sermos brasileiros com descobertas realizadas pela empresa
como o Pré-Sal? Quantos cientistas puderam construir carreiras graças aos
investimentos da Petrobrás? Eu não sei te dizer números exatos, mas eu nem
tenho como contar, pois sei que são inúmeros.
Eu
sou filha de um empregado da Petrobrás. E mesmo só sendo a filha, eu sempre
senti que a Petrobras fazia parte da minha vida. Nas vezes que meu pai me
levava ao Clube dos funcionários da empresa e eu conhecia os filhos de outros
funcionários, construindo laços intermediados pela companhia. Quando criança, quando
não tinham livros infantis em casa, meu pai pegava a revista da Petrobrás para
ler para mim antes de dormir. Sim, eu não entendia nada, só queria que meu pai
lesse para mim. Mas estava ali, a Petrobrás. A empresa sempre homenageava os
trabalhadores pelos anos dedicados à empresa e nós, familiares, íamos às
cerimônias e víamos o quanto a Petrobrás também era nossa dedicação. Meu pai
sempre viajava a trabalho pela Petrobrás e aquilo acabava comigo. Por 3 anos
seguidos, ele viajou no dia do meu aniversário. Mas quando eu via as
propagandas da Petrobrás na TV ou os patrocínios da empresa para setores da
educação, ciência e cultura, eu pensava: é por um bem maior.
Eu lembro quando teve o acidente da Plataforma P-36 em 2001. 11 pessoas morreram. E eu nem as conhecia. Mas para mim, foi como se tivesse morrido pessoas da família. E eu tinha só 9 anos, mas lembro que aquilo me deixou um vazio.
Ver a logo da Petrobrás sempre me trouxe muito orgulho. Quando meu pai vestia, literalmente, a camisa. Quando eu via o Ararajuba, aquele passarinho mascote da empresa, eu sempre sentia aquele calorzinho no coração. E hoje, eu vejo tudo desmoronando.
Quem lembra do Ararajuba que teve nos postos da Petrobrás na Copa de 98? |
Me preocupa pessoalmente a situação da Petrobrás, pois me preocupo com o futuro do meu pai, claro. Mas me preocupa também pois eu sei que é minha história. É a história do meu país. Não é só minha história como filha de petroleiro, mas como cidadã brasileira. É suor, sangue e vida de muitas pessoas. É a cultura brasileira. É a ciência brasileira. E também é o futuro do Brasil, sendo apagado antes mesmo de conseguir se escrever.
sábado, 15 de agosto de 2020
O mindset do caralho da quarentena
Há algumas semanas em quarentena na casa dos meus pais, uma amiga manda o print de um comentário de um vídeo da Jout Jout:
Tive que vir a casa dos meus pais porque minha mãe quis
por ser mais seguro (e mais confortável) ficar em Maceió do que Recife.
Aí eu começo a pensar:
Vou ter que lidar com um lugar que, apesar de ser meu ninho, eu
busco sempre estar longe. Mas tenho que ter paciência. Aí começo a lidar com
uma rotina que não era a minha há mais de 3 anos e a ansiedade começa a
aflorar. E daí eu penso: mas eu tenho que ser grata por ter uma casa, meus dois
pais junto comigo e minha irmã. Mas ao mesmo tempo eu sei que lidar com o
temperamento do meu pai é um pouco difícil para mim, mesmo com tanto tempo na
terapia. Mas ao mesmo tempo vem em mente: nossa, Bruna, mas você é privilegiada
de ainda fazer terapia, não deveria estar reclamando – vide o que eu vi no
Instagram sobre ser grata diante de tanta merda acontecendo. Mas para começo de
história, eu nem queria ter ansiedade nem depressão para não precisar ir para
terapia há quase 7 anos e ainda ter que ir pra psiquiatra há 2 anos (já que eu tive uma crise absurda de depressão e passei meses em off me tratando). Vou ficar então focada nos estudos. Fiz um monte de
curso online (já que liberaram diversos gratuitamente) e mal deu pra acompanhar
todos. Fiquei: é de graça, tenho que dar conta. ESTUDE ENQUANTO ELES ESTÃO
DORMINDO. Também estudei para o doutorado. Mas aí, no começo da quarentena eu
recebi o e-mail dizendo que meu projeto de doutorado foi negado na universidade
que queria. Tudo bem, foi a primeira tentativa. Mas e se academia não for a
minha área mesmo? E se eu tivesse abandonado Direito quando eu pensei em
abandonar e tivesse feito uma outra graduação numa área mais legal, como
Jornalismo, como eu pensava? E se eu não tivesse feito mestrado em Geografia e
me apaixonado e decidido seguir a carreira acadêmica? Eu decidi ser
pesquisadora em um dos piores países pra isso e gastei o resto do meu dinheiro
que juntei com a bolsa do mestrado investindo nessa carreira. Estou metida em
um monte de projeto sem ganhar um tostãozinho pra comprar um café bom. Sou
formada em Direito, por que DIABOS eu não me dediquei a concurso público
naquela época? Poderia estar em algum apt do Minha Casa Minha Vida, casada,
planejando ter filhos... Ou não, talvez só com um apt do Minha Casa Minha Vida
mesmo, mas com dinheiro pra estar bem e independente. Aí eu passo o dia atrás
de emprego e ainda me dedicando aos inúmeros projetos da Universidade que estou
envolvida e minha mãe: você fica muito no seu quarto trabalhando, deveria ficar
mais conosco. E eu fico mais ansiosa pois sei que deveria fazer essas coisas
todas, mas ao mesmo tempo tenho que ‘estar’ presente em casa, pois tem gente aí
perdendo os entes queridos pra uma bactéria filha da puta e eu fico mal por
ainda não ser totalmente independente. Mas ao mesmo tempo eu fico: mas eu
preciso me dedicar pra ter minha carreira, meu dinheiro e poder pagar coisas
para os meus pais, dar um chamego legal com algum jantar, uma viagem. Mas aí eu
penso: MAS SERÁ QUE EU VOU TER UMA CARREIRA? E a ansiedade já me atacou
diversas vezes (uma crise foi tão fudida que tive que sair e ir para a praça
perto de casa (a praça é deserta e não tinha ninguém), no meio da noite, para
respirar ar puro, chorar e tentar tirar da minha cabeça pensamentos não tão
saudáveis para quem sofre com saúde mental) e o medo de ter uma crise de
depressão novamente me assombra de uma maneira que eu não sentia há anos. Mas
aí aparece no feed do Twitter o vídeo de uma blogueira aí dizendo que eu sou
privilegiada de ter um teto, um celular e internet. E eu fico: é verdade... Mas
isso não deveria ser privilégio né? Porém isso me deixa ainda pior, porque sei
que tem pessoas em situações piores do que a minha, mas minha mente está me
corroendo tanto que ontem eu tive uma crise de ansiedade o dia INTEIRO. Há dois
dias tive que ir ao consultório da minha psicóloga para assinar as vias de
todas as consultas remotas que tive desde abril e fiquei noiada de ter pegado
covid entrando no empresarial. Acabou que eu SONHEI que saía de casa sem
máscara e acordei com falta de ar e o peito apertado jurando que já tinha que
ir pro respirador (ou o que quer que seja) porque peguei covid, certeza. No
sonho, eu ia numa loja de roupas e tinham três bolsonaristas sem máscara
falando bosta e quando elas diziam que eu tinha que estudar mais, eu dizia: “E
você precisa deixar de ser tão burra!”. Passei o dia inteiro monitorando minha
respiração quando, racionalmente, eu sabia que era só ansiedade. E eu fico com
medo de dizer aos meus pais, pois eles ainda não entendem bem o que é ansiedade
ou depressão. Mas ao mesmo tempo eu fico: tenho que ser grata, não posso
reclamar. Mas aí eu penso: mas porra, eu sou humana, eu sinto essas coisas e
não quer dizer que eu não ame meus pais se eu não posso ficar com eles por
horas seguidas para poder me dedicar à essa carreira fudida na academia que,
apesar das dificuldades, eu amo demais. Mas aí vem na minha cabeça a galera do
Twitter que vai dizer: ah, lá vem a privilegiada reclamando de saúde mental.
TALVEZ POR QUE EU TENHA TRANSTORNO DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO E NÃO IMPORTA SE EU
TENHO TETO E COMIDA EU VOU FICAR DESMEDIDAMENTE PREOCUPADA E AFLITA JÁ QUE TEM
UM MONTE DE MERDA ACONTECENDO NO MUNDO, INCLUSIVE AQUI DENTRO DA MINHA CABEÇA E
MESMO TENDO TUDO, EU ESTOU DESEMPREGADA, PERDIDA E NÃO SEI SE TENHO JEITO NESSE
MUNDO DE BOSTA COM UM VÍRUS FUDIDO ATRAPALHANDO TUDO?
Mas aí minha mãe chegou no meu quarto e mostrou a máscara que
ela fez para doar para comunidades pobres de Maceió; meu pai está conseguindo
lidar com as mudanças no trabalho; minha irmã encontrou um emprego massa (e que
apesar d’eu ficar muito orgulhosa dela, eu fico pensando: será que vai chegar o
momento em que eu vou conseguir algo assim?); meu projeto de doutorado está
ficando mais alinhado; montei uma equipe de pesquisa e estudo em café que está
se fortalecendo e me inspirando maravilhosamente e minha gata dormiu comigo
hoje.
É. O mindset dessa quarentena é um caralho de bosta. E dizer que
essa quarentena veio pra ajudar a ver coisas... olha, eu mando você tomar no cu
mesmo. Essa bactéria filha da puta só veio pra piorar uma situação que já
estava fudida.
Mas a gente vai aprendendo. E esperando a porra do caralho dessa vacina porque eu não aguento mais.
terça-feira, 14 de abril de 2020
O Tempo.
[Trilha desse texto: A quiet life, Teho Teardo & Blixa Bargeld ]
“Eu ainda tenho tempo. Por que a gente fala isso? “Ter tempo”. Como podemos ter tempo se é ele que nos tem?”
Jonas, Dark – 6 ep, 2 temp. O ciclo sem fim)
- Se pode fazer, faça logo;
- Se é você que quer, não espere por ninguém.
domingo, 26 de janeiro de 2020
Inícios
Como diz minha mestra fitness: TEM QUE MALHAR PRA FICAR FORTE E METER O SOCO EM FASCISTA! |
sábado, 5 de outubro de 2019
As bolinhas de leite no fundo do café
Dia de análise sensorial com uns amigos. Reuni quase 20 pessoas na casa dos meus pais para provar café em métodos diferentes |
Coffee Lab em 2012 |
Eu em Paris em 2016 tomando café brasileiro |
O dia que descobri o que era felicidade (Outubro de 2018) |
sábado, 10 de agosto de 2019
A carona de guarda-chuva
Sobre os familiares bolsonaristas
Conseguimos. Chegou a hora que o Jair já foi embora. Lula já tomou posse, Resistência subiu na rampa, o povo brasileiro passou a faixa para...
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No último dia primeiro de outubro foi dia internacional do café. Eu estou um pouco sumida desse blog e da caixa de e-mail por causa do caf...
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Desde que eu voltei a escrever esse blog, uma das ideias foi me forçar a cozinhar. Porque eu sempre gostei de me aventurar na cozinha, mas ...
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Eu sou bem suspeita para falar sobre café. Até já comentei aqui no blog sobre como sou degustadora dessa bebida dos deuses desde os meu...